20 setembro 2013

dizer adeus à identidade virtual

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Quais as principais razões que levam as pessoas a deixar o Facebook? Neste artigo, publicado no P3, a lista é encabeçada por preocupações com a privacidade, seguindo-se a inevitável insatisfação com a superficialidade sentida nas relações virtuais e o tempo despendido na rede social - ainda que pouco representantivo (dada o número reduzido de inquiridos) sugiro a leitura do estudo completo, que podem encontrar aqui.

A questão da superficialidade das relações virtuais é muito interessante, representando um problema complexo criado pela facilidade com que podemos criar uma personagem virtual que, mais que uma extensão, é, em muitos casos, uma tentativa de reinvenção do 'eu' real. Não é um fenómeno exclusivo das redes sociais mas sim do meio online, que tem permitido (praticamente desde que se tornou parte integrante de uma rotina diária), a muitas pessoas viverem a vida que sempre idealizaram.

O tipo de conteúdos que se partilham nas redes sociais (especialmente no Facebook) é um reflexo desta espécie de dissociação da personalidade: citações de autores famosos partilhados por quem já não pega num livro há mais de 10 anos; activistas políticos de mesa de café, que entopem os feeds de notícias alheios com notícias e impropérios ao governo vigente, mas nunca tomaram uma atitude para mudar o que quer que seja; até nas interacções podemos ver estas diferenças (especialmente se conhecemos a pessoa), nos casos particulares de quem adora ser "bitchy" numa rede social mas, colocado numa situação de interacção social, mal consegue articular duas palavras (para mim, os maiores candidatos a bullies virtuais).

Observo estes fenómenos desde o tempo do IRC. O exemplo que recordo com maior clareza foi de ter sido ameaçado por um indíviduo (em bom português, queria-me dar uma carga de porrada) que tive a oportunidade de conhecer e confrontar cara a cara: o desfecho foi bem menos interessante do que poderão pensar, o rapaz não sabia bem em que buraco se havia de meter e eu, que não estava com vontade nenhuma de andar à batatada, apenas consegui sentir um misto de pena e curiosidade, iniciando uma reflexão, que me tem acompanhado ao longo dos anos, sobre os motivos que levam as pessoas a adoptar determinadas posturas no mundo online.

O 'Second Life' prometia-nos a oportunidade de viver a vida com que sempre sonhámos; o 'Second Love' anuncia a possibilidade de viver amores virtuais descartando a culpa da traição. É para isto que caminhamos? Uma segunda (ou terceira?) vida, preenchida pelas emoções que não vivemos no mundo real? Não consigo, no entanto, de nutrir alguma admiração por quem o consegue fazer, gastando tanta energia física, mental e emocional para se dividir em tantos registos diferentes - pena que o efeito é o oposto do esperado, uma vez que, parece-me, apenas está a contribuir para um aumento da insatisfação e da infelicidade com a vida em geral.

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